domingo, 12 de outubro de 2014

Sim, temos tradição de esquerda aqui em SP, resistimos a todas as ditaduras, desde a dos barões do café, até a dos tecnocratas da Avenida Paulista.


O estado de São Paulo vem sendo tomado por uma onda conservadora de largas proporções. Uma onda que persiste e se expande. Diversos pensadores de esquerda se interrogam sobre como a direita tem mantido, ao longo de décadas, a hegemonia sobre este estado. De fato, a extrema-direita controla o estado de São Paulo desde os tempos dos barões do café. Mas essa elite dirigente, sobretudo após a industrialização, sempre se deparou com uma tenaz resistência por parte da classe trabalhadora. Sempre foi denunciada pela militância política e intelectual de personalidades como Caio Prado Junior, Antônio Candido, Florestan Fernandes, Paulo Emílio Sales Gomes, dentre tantos outros.

Abaixo, elencamos um breve histórico das lutas sociais ocorridas em SP, uma região que possui muita tradição de esquerda. Um lugar que foi cenário de tantos atos heroicos de resistência, jamais irá se acomodar perante a ascensão do fascismo.


Primeira década do Século XX – introdução e disseminação do anarquismo e do socialismo entre os operários, surgimento da classe trabalhadora organizada, dos sindicatos, formação de uniões operárias, congressos e as primeiras greves, especialmente na capital paulista e na baixada santista.

1917 – Greve geral anarcosindicalista,  primeira manifestação de massas vista no país, durante um mês a cidade ficou sobre controle operário.

1924 – Levante tenentista comandado por Isidoro Dias Lopes e Miguel Costa, por mais de um mês a cidade foi controlada pelos revoltosos. A reação do governo central foi feroz, e a capital paulista foi duramente bombardeada, inclusive por aviões, sendo que os bairros populares foram o alvo preferencial das tropas de Arthur Bernardes.

1935 – Uma frente unindo comunistas (PCB), trotskistas, anarquistas e socialistas dissolveu a bala uma tentativa de realização de uma grande marcha por parte dos integralistas, na Praça da Sé. Dezenas de pessoas acabaram mortas, a maioria integralista, frustrando os planos de Plínio Salgado de reeditar no Brasil uma “marcha sobre Roma”.

1945-47 – Intensa atividade operária-sindical e popular, organizada sobretudo pelo PCB, com aumento no número de greves, formação de conselhos populares, comissões de bairro.

1953 – Greve do 300 mil, durante várias semanas a cidade foi paralisada pelos trabalhadores, a repressão foi feroz e vários operários foram assassinados, no entanto, o lado da repressão também teve suas baixas. Após o término do movimento, o direito de greve foi reconquistado (proibido antes do Estado Novo, iniciado em 1937), e o Ministro do Trabalho, Joao Goulart, concedeu 100% de aumento para o salário mínimo.

1957 – Greve dos 700 mil, também vitoriosa. Desta greve surge o PUI (Pacto de Unidade Intersindical), embrião de uma futura central sindical, o PUI representou um movimento de ofensiva da classe trabalhadora paulista e nacional.

1962 – IV Encontro Sindical Nacional, realizado em SP, desse encontro surge o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), primeira central sindical brasileira, organizada pelos próprios trabalhadores.

1963-1964 – Dezenas de Greves operárias, greves estudantis, reforço nas ações dos movimentos articulados pelas associações de cabos e soldados das Forças Armadas, grupos que tinham ligações com a esquerda. A combatividade das classes populares assustou a burguesia, e esta classe optou por rasgar a Constituição e tomar o poder por meio de um golpe de estado em 1964.   

1966 – Setembrada estudantil, mobilização nacional em protesto contra a ditadura civil-militar, com forte atuação na cidade de São Paulo e em Osasco.

1968 
  • ·         Mobilização estudantil, com centro na Maria Antônia, principal campus da USP no período. Entre março e outubro ocorreram incontáveis protestos, marchas e passeatas promovidas pelos estudantes paulistas. O prédio de Maria Antônia foi ocupado em julho, e desocupado apenas em 3 de outubro, data a invasão e destruição das instalações da USP Maria Antônia, em ação que reuniu a repressão estatal e o CCC (Comando de Caca aos Comunistas). O CRUSP (Conjunto Residencial dos Estudantes da USP), ocupado desde 1963, permaneceu como território livre até dezembro, quando foi invadido e desocupado pela repressão, a mesma que prendeu e espancou centenas de estudantes que se encontravam no CRUSP. Em outubro foi dissolvido o Congresso da Ibiúna, organizado pela UNE e pela UEE (União Estudantil Estadual) paulista. A ação policial resultou em centenas de estudantes presos.  


  • ·         Em julho, uma greve insurrecional eclodiu em Osasco, grande SP, e a empresa Cobrasma foi ocupada pelos trabalhadores. Em menos de doze horas a empresa ocupada foi invadida pelos militares, e centenas de trabalhadores foram espancados e confinados em um ginásio local. Outras empresas da cidade que também se encontravam paralisadas tiveram o mesmo destino da Cobrasma. No dia posterior ao início da greve, o Sindicato dos Metalúrgicos local, ocupado por trabalhadores, também foi invadido. Operários, operárias, esposas e filhos pequenos de grevistas que se encontravam no sindicato foram barbaramente atacados pela repressão.




  • No final do ano, são organizados os dois principais agrupamentos guerrilheiros em atuação no país, a ALN (Ação Libertadora Nacional), formada a partir de uma cisão do PCB, liderada por Carlos Marighela, e a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), organizada por militantes oriundos da ORM-Polop (Organização Revolucionaria Marxista) Política Operária, do MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário, formado por militares cassados em 1964), e o Grupo de Osasco.


Anos de Chumbo (1968-1975) – Intensa atividade guerrilheira na cidade, com a proliferação de diversos grupos de guerrilha. Dezenas de assaltos a banco, sequestros e justiçamento de agentes da repressão. A ALN atua em conjunto com o MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro) no sequestro do embaixador estadunidense em setembro de 1969. A VPR realiza três grandes sequestros (Consul japonês e embaixadores da Alemanha e Suíça), ações que livraram da cadeia mais de cem guerrilheiros presos.

1975-76 – Assassinatos de Wladimir Herzog, jornalista, e Manuel Fiel Filho, operário. A morte de Herzog gerou comoção e revolta, e foi denunciada pela igreja católica local, em franca oposição a ditadura, liderada por figuras como Dom Paulo Evaristo Arns.

1978 – Início do ciclo de greves do ABC, destas mobilizações brotará a liderança de Luís Inácio Lula da Silva. As greves do ABC foram o primeiro ato frontal de resistência à ditadura desde a decretação do AI-5 em 1968. As mobilizações paulistas reativam o movimento operário brasileiro.

Início dos Anos 1980 – Nessa conjuntura são criados o PT e a CUT, a UNE retoma suas mobilizações, e o movimento Diretas Já! coloca a ditadura contra a parede. São Paulo assiste a manifestações que chegaram a reunir 1 milhão de pessoas.


Após a frustação da derrota do movimento Diretas Já!, uma certa letargia tomou conta dos grupos capazes de organizar movimentos de massa em SP. Contudo, a mobilização de esquerda jamais cessou nesta cidade e estado. Minorias políticas passaram a se organizar, grupos LGBT, o movimento feminista, anarquista, o movimento negro, sem terras, sem teto, etc. A atual fase assiste a proliferação da militância digital, via blogs e sites de esquerda, e a esquerda de SP tem tido presença ativa nesse processo. 

Sim, temos tradição de esquerda aqui em SP, resistimos a todas as ditaduras, desde a dos barões do café, até a dos tecnocratas da Avenida Paulista.

O vídeo abaixo fala da resistência e da luta de morte da guerrilha contra o sistema repressor e genocida da última ditadura civil-militar. São Paulo, durante os Anos de Chumbo, foi o centro da resistência ao regime protofascista dos militares e da burguesia.







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