segunda-feira, 15 de julho de 2013

As vidas de Maurinho e Sabotage

Brasil de Fato

Livro ‘Um Bom Lugar’ resgata a memória de um dos rappers mais conceituados no Brasil; próximos lançamentos estão marcados para esta semana

Mauro Mateus dos Santos ficou conhecido principalmente pela sua versatilidade no meio artístico. Como Sabotage, participou de dois filmes, lançou um disco, gravou vídeo clipe e foi premiado como revelação e personalidade do movimento Hip Hop. O disparo meteórico do rapper foi em apenas dois anos.
Entretanto, ao mesmo tempo que sua ascensão no meio artístico foi repentina, sua carreira foi interrompida de forma precoce. No dia 24 de janeiro de 2003, a voz do maestro da Favela do Canão - uma referência à favela paulista onde nasceu e foi criado – foi calada por quatro tiros.
Hoje, após dez anos de sua morte, a alma de Sabotage continua viva. Será lançado um disco póstumo com músicas inéditas, no qual ele trabalhava dias antes de ser assassinado. O rapper também voltará à cena no documentário “Sabotage, o Maestro do Canão”, que será lançado até o final deste ano.
Além do disco e do filme, a biografia de Maurinho, como era chamado pelos amigos da comunidade de onde viveu, foi retratada no livro “Sabotage, Um bom lugar”, de Toni C., autor também do romance “O Hip Hop está morto”.
O lançamento oficial da biografia foi nos dias 9 e 10 deste mês no Itaú Cultural, em São Paulo. Nesta quarta-feira (17), será lançado no Sarau da Cooperifa, na zona sul da capital paulista e, no dia 23 de julho, na livraria Suburbano Convicto, na Bela Vista, também em São Paulo. O lançamento da obra também está previsto para os dias 29 de julho, em Jundiaí, e no dia 30, na Livraria Saraiva, no pátio Paulista. (o livro pode ser adquirido neste link)
Na foto, da esq. para a dir., os filhos de Sabotage, Wanderson e Tamires. Ao lado deles, o autor da biografia Toni C.

Primeiro contato

Ao Brasil de Fato, o autor da biografia lembra como foi o dia da morte do músico. Ele participava do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre (RS), onde Sabotage viajaria para, no dia seguinte, ser atração surpresa em uma das atividades do encontro. “Informei as pessoas do Hip Hop do Brasil inteiro, que estavam ali no Fórum Social, que o Sabotage tinha morrido. E hoje, dez anos depois, eu tenho a oportunidade de contar a história de vida dele.”
Meses após a sua morte, a Câmara dos Vereadores de São Paulo prestou uma homenagem ao músico. Durante o encontro, o rapper Rappin Hood, amigo de Sabotage desde 1990, explanou como foi que ele trouxe Sabotage para o rap. Ele lembrou que, junto com o rapper Sandrão, foram até o ponto de venda de droga onde Sabotage “fazia bico”, determinados a apresentar uma alternativa ao jovem. A partir daí, segundo Hood, Sabotage seguiu na carreira de músico e não voltou mais para o mundo do crime. Nesse dia, Toni C. acompanhou o encontro e o documentou na coluna que tinha no portal Vermelho.
Rappin Hood esboçou uma reação positiva ao ver o registro de sua explanação no artigo de Toni C. Desde então, o sentimento do autor pela vida de Sabotage começou a dar sentido no que poderia vir a ser uma biografia. “Eu cheguei a comentar isso pro Rappin Hood. Ele achou uma boa. Concordou que era necessário ser feito, mas combinamos que teria um acordo que o próximo passo, já que nós dois tínhamos um consenso sobre o projeto, era consultar a família [do Sabotage]”, conta Toni.

O elo que faltava
No entanto, o tempo passou e a ideia da biografia foi ficando adormecida, pelo menos na prática. Mas, por ironia do destino, no ano passado, Toni foi chamado de última hora para substituir um fotógrafo na cobertura da morte de nove anos do cantor. Foi nesse momento que ele passou a ter contato com a família de Sabotage. “Era o elo que faltava. Falei do projeto, eles toparam, acharam legal e a obra está aí na mão.”
Um ano de trabalho foi o tempo que Toni teve para escrever a biografia. Mas ele mesmo conta que tudo começou no dia em que Sabotage foi assassinado. “Eu já estava fazendo [a biografia] sem saber. Estava construindo a obra que é uma coisa mais extensa. São alguns capítulos que ocorreram antes mesmo da pesquisa oficial para o livro.”

Um bom lugar
O livro ‘Sabotage, Um bom lugar’ conta com prefácio de um titã, Paulo Miklos, com quem Sabotage conviveu por semanas no set de filmagens de ‘O Invasor’, filme do diretor Beto Brant.
Além de contribuir para o rap nacional, Toni espera que a biografia de Sabotage sirva para que as pessoas percebam que é possível construir uma carreira digna com simplicidade, e também enfrentar os problemas da vida através de muita luta e persistência. 
“Ele [Sabotage] é um sentimento das pessoas que lutam por coisas melhores. Ele é a personificação das mazelas sociais do Brasil. Um negro, que perdeu a mãe de forma trágica, que tinha um irmão bandido e o outro com doença mental, era filho de pai carroceiro e que lutou a vida inteira para ter um lugar para morar. Era um favelado que não tinha onde morar e foi despejado de onde ele nasceu e viveu parte da vida, que é o Canão, que ele canta tanto. Porque é a identidade dele de chão, de terra. Esse é o Sabotage, que representa tudo isso e muito mais.”
‘Um Bom Lugar’ é a primeira biografia definitiva de um rapper brasileiro. Os rappers Rappin Hood, Celo X, Ganjaman, Sandrão, Helião e Mano Brown são alguns dos que concederam entrevistas exclusivas para a obra.
Além do livro, o rapper também voltará à cena no documentário “Sabotage, o Maestro do Canão”, que será lançado no final deste ano. Dirigido por Ivan Vale Ferreira, da 13 Produções, o documentário traz depoimentos de diversos músicos e pessoas ligadas a ele, demonstrando a importância desse artista que misturou estilos e se tornou uma lenda após sua morte.



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