segunda-feira, 16 de julho de 2012

SP discute as ‘ruas da ditadura’


Avenida, rua e colégio (absurdo!) Filinto Muller, Av. Carlos Lacerda, rua Domingos Jorge Velho, Av. Roberto Marinho, etc, etc, etc... Até quando esta cidade e este estado vão cultuar assassinos e criminosos? 

A ditadura militar ainda sobrevive em São Paulo. Ao menos nas ruas, vultos do regime de exceção que governou o Brasil de 1964 a 1985 permanecem lembrados. Há décadas seus nomes batizam avenidas, praças e pontes por toda a cidade. Mas, no sábado, um desses personagens perdeu o direito à homenagem. Com um decreto do prefeito Gilberto Kassab (PSD), o general Milton Tavares de Souza, linha-dura da época, deixou de dar nome ao viaduto que liga a Penha, na zona leste, à Vila Maria, na norte, sobre o Rio Tietê, conforme mostrou o JT. A mudança traz à tona o debate em torno da utilidade da manutenção ou retirada dessas “homenagens”.
É necessário revisar a honraria e tirar das placas e guias de rua o registro dos figurões do regime autoritário? Existe quem diga que não. Filho do jornalista Vladimir Herzog (1937-1975), o engenheiro Ivo Herzog crê que os nomes “ruins, dos que foram vilões” devem ser mantidos. “Essas pessoas tiveram um papel, por pior que tenha sido. Nós devemos conhecê-lo. O que falta é dar nome de pessoas que morreram pela democracia a monumentos e viadutos.”
Seu pai foi encontrado enforcado nos porões da ditadura. Hoje, empresta o nome a duas ruas na capital. Uma, no bairro de Anhanguera, na zona norte, e outra na Lapa, na oeste, onde está a sede da TV Cultura, empresa em que trabalhava quando foi assassinado.
Ivan Seixas, integrante da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos, concorda que deva haver mais homenagens aos opositores do regime. Discorda, no entanto, de que os militares continuem servindo de mote para endereços. “Não faz sentido homenagear o criminoso e não a vítima. Tem que mudar e esclarecer o por quê da mudança.” Como exemplo, cita a Rua Doutor Sérgio Fleury, na Vila Leopoldina, na zona oeste. Trata-se de referência ao delegado que se transformou em um símbolo do autoritarismo.
“Ele foi condenado pela Justiça por ser membro do Esquadrão da Morte. Isso tem que ser colocado, para as pessoas que virem a placa não acharem que o doutor foi médico ou algo assim”, afirma Seixas, cujo pai morreu torturado.
Por toda a cidade – Chamado de Minhocão por dez entre dez paulistanos, o Elevado Presidente Artur da Costa e Silva, na região central, talvez seja o mais conhecido logradouro em memória de um dos líderes da ditadura na cidade. Mas o dirigente que promulgou o duro Ato Institucional n.º 5 é só parte da lista. São Paulo tem uma Avenida General Golbery do Couto e Silva, no Grajaú, na zona sul. O militar foi um dos articuladores do golpe de 1964. A capital tem também a Praça Augusto Rademaker Grünewald, no Itaim-Bibi, na zona sul. Ele formou a junta militar que governou por dois meses em 1969.
A própria Marginal do Tietê presta honra a um líder da ditadura. O presidente Castelo Branco, que dissolveu os partidos políticos, batiza boa parte da via no sentido Ayrton Senna, além de uma rodovia que começa na Marginal.
A professora Amélia Teles, da comissão de familiares, diz que as denominações devem ser trocadas, desde que se preserve em um ponto o nome antigo. “Devem pôr uma placa explicando que a via tinha outro nome e explicar que foi mudado porque tal pessoa foi parte de uma repressão que matou, estuprou e ocultou cadáveres.”





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