sábado, 20 de fevereiro de 2010

Indicado a 2 Oscar, "Homem Sério" satiriza homem comum


Indicado a 2 Oscar, "Homem Sério" satiriza homem comum


Vi hoje, como diria um amigo meu cinéfilo, intrigante... É sensacional como tudo que fazem os irmãos Cohen, mas não me atrevo a analisar este filme, deixo pros especialistas, mas recomendo.


Brasil Atual


Concorrendo a dois Oscar -- melhor filme e roteiro original --, "Um Homem Sério", novo trabalho dos irmãos Ethan e Joel Coen ("Onde os Fracos Não Têm Vez"), é um filme repleto de possibilidades de interpretação e difícil classificação de gênero.

Como sempre, os Coen produzem, escrevem o roteiro e dirigem juntos "Um Homem Sério", uma história em que o tom cômico anda de mãos dadas com a gravidade.

O protagonista é um professor de física, Lawrence Gopnick (Michael Stuhlbarg, de "Rede de Mentiras"), um verdadeiro protótipo do homem comum, do pai de família honesto e trabalhador do Meio-Oeste norte-americano dos anos 1960, a época da história.

Estabelecido este mundo direito, arrumado, em que se move o protagonista, um judeu devoto, paulatinamente se trabalha para colocar tudo em dúvida. O casamento de Lawrence com Judith (Sari Lennick), por exemplo, que ele acreditava tão sólido, está em pedaços. Ela quer o divórcio porque tem um caso com um viúvo, Sy Ableman (Fred Melamed). Os filhos do casal, Danny (Aaron Wolff) e Sarah (Jessica McManus), não parecem dar maior importância ao caso, nem a coisa nenhuma, aliás.

Em casa, Lawrence sofre ainda com o peso da presença do irmão, Arthur (Richard Kind), com graves problemas de saúde e adaptação. Fora isso, Arthur é viciado em jogo.

Habilmente, a história desenha uma série de conflitos éticos que põem em questão a integridade que Lawrence acha que tem. Um deles nasce de uma divergência com um aluno sul-coreano, Clive (David Kang).

Inconformado com a nota baixa que pode pôr a perder sua bolsa de estudos, Clive deixa uma alta soma em dinheiro na mesa do professor, depois de insistir que ele o submeta a uma nova prova. O professor fica abalado, porque precisa cada vez mais de um reforço de caixa, com o divórcio e os problemas do irmão.

Gopnick bem que procura o apoio da religião, sem muito sucesso. Ele busca conselhos junto aos rabinos da comunidade, mas eles pouco lhe oferecem fora de um senso comum bem banal.

Judeus eles próprios, os Coen traçam aqui uma impiedosa sátira ao judaísmo em diversas situações, com uma riqueza de detalhes que certamente tem raízes autobiográficas. Um exemplo é quando o garoto Danny participa de seu próprio "bar mitzvah" completamente chapado depois de fumar maconha.

Algumas digressões não têm real função narrativa, mas contribuem para adicionar um toque de perplexidade que faz parte do estilo peculiar de humor dos Coen. Este é o caso da sequência inicial, ambientada no século 19, em que um casal recebe em casa um velho que a mulher garante que é um "dybbuk" -- ou seja, um fantasma.

Outra história, contada por um rabino, remete à situação em que um dentista judeu verifica, com espanto, que um cliente não-judeu tem inscrita nos dentes, em hebraico, a frase: "ajude-me".

Nenhuma destas situações resulta em nenhuma grande conclusão moral ou qualquer epifania. Os Coen já demonstraram generosamente em seus filmes anteriores, como "Fargo" (1996) e "Queime Depois de Ler" (2008), que são céticos e cínicos demais para dispor-se a qualquer tipo de pregação.

Neste sentido, "Um Homem Sério" insere-se em sua obra como mais um comentário, denso e espirituoso, aliás, sobre a crise do homem comum, da família e da própria nação norte-americana.

Difícil pensar outra coisa com a poderosa sequência final, mostrando um tornado que se aproxima, enquanto a bandeira dos EUA está quase sendo arrancada do mastro pelos ventos furiosos, num horizonte cada vez mais sombrio.





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