segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Para líder negro, execução virou política de Estado na Bahia


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Por: Redação - Fonte: Afropress - 1/8/2009

Salvador - O Coordenador Nacional do Movimento “Reaja ou Será Morto. Reaja ou Será morta”, criado em Salvador para denunciar a prática de assassinatos pela Polícia, Hamilton Borges Walê, disse que a execução sumária de jovens – na sua maioria negros – pela Polícia virou política de Estado na Bahia.

“A política de segurança é uma política que tem tirado as nossas vidas. Ninguém está à salvo na Bahia. Em nosso ponto de vista o Governo da Bahia é uma espécie de centauro. Tem uma cabeça liberal, um discurso liberal, mas as patas são fascistas”, afirmou.

Segundo ele, não houve mudanças no Governo Jacques Wagner, do PT, em relação aos seus antecessores - todos ligados ao “carlismo”, corrente política do senador Antonio Carlos Magalhães, morto em julho de 2.007, que durante anos comandou o Estado. Ele lançou um apelo à sociedade brasileira para que ajude a ampliar a Campanha nacional e internacional que denuncia as execuções e pediu a demissão imediata do secretário da Segurança Pública, delegado César Nunes, segundo ele, o grande defensor desse tipo de ação policial.

“Ele disse em vários momentos, em várias entrevistas que nós podemos dispor para a Afropress. "Precisamos caçar os bandidos". "Se tem que tombar que tombe do lado de lá". Ele quando chegou como chefe da Polícia, disse: "A Polícia da Bahia é frouxa. É covarde. Eles giram o giroflex botam as armas prá fora, mas no final não caçam os bandidos. Nós estamos prá caçar e se for necessário mataremos”, relatou.

O caso dos três jovens

Na entrevista exclusiva à Afropress, que pode ser vista TV Afropress, Hamilton Walê, que é poeta e ativista do Movimento Negro Unificado da Bahia, citou o caso da execução de jovens em Canabrava – bairro da periferia de Salvador “arrancados do colo de sua mãe e executados” por uma tropa composta por mais de 100 policiais militares e civis que invadiram a favela.

As mortes dos irmãos Edmilson Ferreira dos Santos, 19 anos, Rogério Silva dos Santos, 25, e Manoel Ferreira dos Santos, de 23, aconteceram no dia 16 de junho passado.

Segundo o Ouvidor Geral da Polícia, Edmundo Assemany Felipe, o inquérito que apura as mortes, foi concluído e remetido a promotora Isabel Adelaide, do Grupo de Controle Externo da Ação Policial.

“Há um inquérito apurando isso. O que acontece é que há confrontos e autos de resistência no momento em que a Polícia se defronta com marginais e é recebida a tiros e faz uma reação na mesma proporção com que é recebida”, afirmou.

Quanto a política de execuções, o Ouvidor afirmou. "Na verdade, o secretário não está estimulando coisíssima nenhuma, porque ele não seria louco, tolo, de fazer uma coisa dessas. É um homem com larga experiência, que tem uma carreira, não faria isso".

Afropress ligou para a promotora que apura o caso, porém, funcionários informaram que está de férias e não souberam informar quando retorna e nem se já há uma posição do Ministério Público.

Hamilton Walê, porém, garante que as execuções em Canabrava foram uma demonstração à ceu aberto de como age a Polícia e de como no Governo Jacques Wagner permanecem os velhos métodos. “Em nosso ponto de vista o governo da Bahia é uma espécie de centauro. Tem uma cabeça liberal, um discurso liberal, mas as patas são fascistas”, acrescentou.

Farsa

Ele lembrou que, no caso dos jovens, o próprio IML divulgou Laudo confirmando a execução sumária, demonstrando que tinham marcas nas mãos e que se defenderam de tiros nos rostos. “Dois dias depois sai um dado dizendo que os jovens haviam trocado tiros, quando todo mundo sabe que não havia possibilidade nenhuma de reação”, frisou.

Segundo o líder negro, a execução dos jovens teria ocorrido por vingança, por causa do assassinato do agente da Polícia Civil, José Gonçalves Teixeira, o O’Hara, morto horas antes em Canabrava. ”Tudo aconteceu por vingança. Por que foi morto um policial conhecido como Ohara, que tinha os métodos de investigação que hoje são correntes no Estado da Bahia que e a tortura a intimidação, a propina, esse policial foi morto. Nós não festejamos a morte dele, não festejamos a morte de quem quer que seja. Mas, um Estado que se diz republicano sobretudo o Estado da Bahia, ele não poderia utilizar da vingança como método de segurança pública. Então colocaram 100 policiais, inclusive, para dificultar a identificação dos criminosos”, denunciou.

Sem mudanças

Hamilton Walê responsabilizou as forças políticas ligadas ao Governo, que dão sustentação a política de segurança na Bahia. “O que existe é um discurso que pode aparecer em São Paulo, em Minas, no Rio Grande do Sul, ou no exterior como o discurso de um governo democrático, um governo de esquerda, e com a participação dos negros, mas de fato quem está ali no plano doméstico está sendo pisado, pisoteado o tempo todo. O que existe de importante é que todas as forças políticas que, pretensamente, são democráticas, elas se calam, e para além de se calar, elas forjam, inclusive,relatórios. Todos os dias, praticamente nós estamos indo ao IML reconhecer corpos, junto com as mães na pedra do IML”.

Pretos são os alvos

Segundo o coordenador do Movimento “essa já é política de Estado há muito tempo”. “Todo preto é um bandido padrão. Todo preto pode ser eliminado sumariamente e toda casa de pessoas pobres negras pode ser invadida. Meus filhos de 15, 23 anos, são alvos da Polícia. Eu posso voltar e enterrar meus filhos”, finalizou.


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