Desabafo Palmeirense

Tenho visto em diversos blogs uma associação entre o nome da Sociedade Esportiva Palmeiras e do governador Zé Vampiro. O Nosferato é só mais um torcedor do Palmeiras. Tem gente de todo tipo em nossa torcida, de direita, de esquerda, de extrema direita, de extrema esquerda, facistóides, estalinistas, tucanos, petistas, neutros, apolíticos. Temos desde defensores do flash mob até da guerrilha urbana. Toda torcida é assim, ao menos no Brasil. Em alguns países, como a Itália, há torcidas de forte cunho político, como facções da torcida da Lázio, assumidamente fascistas. Por outro lado há torcidas de esquerda no Livorno e na Roma. No Chile há uma definição clara entre torcedores de Colo Colo e Universidad Católica, estes identificados com a elite branca do país, aqueles com as forças populares. Há outros casos, como Barcelona e Real Madri, Boca e River.

Mas no Brasil não temos este fenômeno, todas as torcidas são caldeirões multifacetados, com gente de todo o tipo. Por isso acho injusto identificar os palmeirenses com a direita. De fato, o Palmeiras é o time da colônia italiana, mas não apenas, ao contrário da Portuguesa, que ficou fechada entre os patrícios, o Palestra Itália abriu seus portões aos demais brasileiros, assim como o fez o Vasco no Rio e o Cruzeiro em Belo Horizonte.

Quando se fala em Itália imediatamente se faz associação com fascismo e Mussolini, ou Berlusconi, que é a mesma coisa. Não podemos esquecer que a Itália é a pátria de Antonio Gramsci, um dos maiores teóricos e revolucionários do século vinte. Entre 1918 e 1920 os operários italianos quase tomaram o poder, e provavelmente o teriam feito num momento seguinte, não fosse o advento do fascismo. A Itália possui uma tradição muito forte de luta social, teve um movimento anarquista poderoso e o exportou para o mundo. Na América Latina, do México ao Chile, houve agitações anarco-sindicalistas nas primeiras décadas do século XX.

No Brasil, tivemos a grande greve insurreicional de 1917 (foto acima), que assustou a burguesia. Quantos dos agitadores revolucionários de 1917 eram torcedores do Palestra? Estes mesmos agitadores palestrinos iriam ajudar a formar o PCB em 1922, e iriam compor as forças de esquerda deste país até os dias de hoje. Sendo assim, não devemos tomar a torcida do Palmeiras pelo Zé Chirico nem pelo PSDB. Hoje em dia temos um batalhão de palmeirenses metidos a besta, racistas, orgulhosos de fazerem parte da classe média branca paulistana, mas nosso passado segue conosco, seremos sempre a porcaiada, e este apelido não vem de origem nobre, vem daqueles que moravam em cortiços e favelas no início do século passado, passaram por todo tipo de necessidade e eram muito mal vistos pela elite tradicional paulista, daí o porco, gente pobre, mal nutrida, castigada, mas com coragem e energia. Exatamente como o são parte dos retirantes nordestinos que vivem nas periferias de São Paulo hoje em dia.

Por mais que o Serra queira se afirmar como referência entre a torcida do Verdão, seremos sempre um time fundado por operários, alguns anarquistas, outros não, mas todos trabalhadores.

Vai Parmera!!!!!